MEU LUGAR NO TEMPO | MY PLACE IN TIME
Há alguns anos observo a passagem do tempo. Da vida em si e dela em meu corpo. É natural, mas não sem receios, a percepção de que tenho, hoje, menos futuro em comparação ao passado que trago atrás de mim. Todos os dias descubro uma nova marca imposta pelo tempo. Acabei sucumbindo à cultura distorcida de que a velhice precisa ser evitada ou corrigida; que beleza e juventude são sinônimos. Acreditei que um corpo só poderia ser bem visto se rejuvenescido. Sem marcas. Tentei, portanto, congelar esse tempo: clareei as manchas, preenchi as rugas e apaguei os vincos visíveis de minha pele.
Entendi que falsear o tempo não o faria menos rápido e tampouco me daria mais anos porvir. Olhei para dentro de mim e me questionei se não era chegada a hora de aceitar a vida com aquilo que ela tem de mais potente: a mudança. O não sempre é fim, jamais início. Eu queria começar e o fiz desobedecendo um paradigma cultural. Envelhecer é vida – atingi essa compreensão observando as plantas, motivos dos meus estudos fotográficos há muitos anos. E evitar a vida não é equivalente a morrer? Assistir ao processo de senescência das plantas me provou ser impossível estar viva sem envelhecer.
A efemeridade da qual participam todas as formas de vida me fez entender que o meu lugar no tempo é sempre agora. Um hoje cheio de ontens – diversos do que foram – abraçados a desejos vindouros. Um tempo no qual um algarismo não me determina. A partir disso me propus a uma integração com as plantas, uma combinação de nossas peles, de nossos estados de transformação. Cada curva, veio, dobra, pistilo, entranha, secura são ainda mais vigorosas quando vistos em sua própria evanescência. Há vida somente na mudança e isso deve ser admirável, não proibido.
For some years now, I have been observing the passage of time. Of life itself and of it within my body. It is natural, but not without apprehension, to perceive that I now have less future compared to the past I carry behind me. Every day I discover a new mark imposed by time. I ended up succumbing to the distorted culture that aging needs to be avoided or corrected; that beauty and youth are synonymous. I believed that a body could only be well-regarded if rejuvenated. Without marks. So, I tried to freeze this time: I lightened the spots, filled the wrinkles, and erased the visible creases on my skin.
I understood that falsifying time would not make it any slower, nor would it give me more years to come. I looked inside myself and questioned if it wasn't time to accept life with its most potent aspect: change. No is always an end, never a beginning. I wanted to start, and I did so by disobeying a cultural paradigm. Aging is life – I reached this understanding by observing plants, the subjects of my photographic studies for many years. And isn't avoiding life equivalent to dying? Witnessing the process of senescence in plants proved to me that it is impossible to be alive without aging.
The ephemerality in which all forms of life participate made me understand that my place in time is always now. A today filled with yesterdays – different from what they were – embraced by future desires. A time in which a digit does not determine me. Based on this, I committed myself to an integration with plants, a merging of our skins, our states of transformation. Every curve, vein, fold, pistil, entrail, dryness is even more vigorous when seen in its own evanescence. Life exists only in change, and that should be admirable, not forbidden.