JáTombei!

A ação JÁTOMBEI! de lambe-lambe para compor as paredes do MUDDA

Um jatobá, ou jatobã, jatobazeiro, Hymenaea courbaril, vive fácil mais de cem anos, alguns mais de mil. Quanto vive um mundo (e um MUDDA) enquanto caí? Árvore aliada de saberes e seres originários, sagrada, do tupi vem o nome “fruto duro”. Até tomba, mas não abre. Os que cá estavam e seguem estando, antes de quem derruba mundos e árvores chegar, abriam o fruto, e o faziam para usá-lo em processos meditativos, geradores de equilíbrio mental. É encontrado desde o Sul do México, pra Catinga está, no Cerrado entra, na Amazônia dobra de altura e de largura. Há delas no Pantanal, Singapura, Quênia, Sri Lanka, Uganda, Taiwan e Madagascar: há Jatobá!

JÁTOMBEI! faz alusão ao jatobazeiro que viveu vivão desde que Ritter e sua turma plantou concreto por lá. Ciente da divindade da árvore, Gustav faz que a entrada principal do prédio esteja debaixo dele, tomando benção. Há quem diga que toda energia da CELG vinha dele. Tentaram tombá-lo pra que vivesse, quiçá mais que o mundo, mas a perversidade do capital, que tudo torna morte, envenenou o mundo, matou o jatobã, que tombou sem ser tombado.

Pois que nessa exposição de mais de trezentos lambes, de mais de cento e dez artistas e coletivos, vindos de mais de trinta e cinco cidades, de todas as regiões do Brasil, homenageamos ele: o Jatobá. Justa homenagem feita de folhas, cores, formas, palavras. A diversidade do material que compõe essa coleção é marcante. Temos poemas, desenhos, montagens, colagens analógicas e digitais, fotografias, mensagens, frases-manifestos, erotismo, murais completos, gravuras, abstrações, pôsteres, pinturas à mão. Digitais do múltiplo Brasil fazem artes para paredes em queda de um mundo em queda do MUDDA em queda. Quase tantas folhas quanto numa árvore sonhada.

Elegemos o MUDDA do lado de fora, sem teto, só céu, inaugurando uma galeria externa: o Jardim Jurupiá, referenciando a intervenção da artista com sua obra realizada para além do prédio principal. Goiânia, cidade já de paredes lambidas, marcada por três edições do Lambisgóia, passa a ter agora a coladoria muddeológica dentro dos escombros e paredes descascadas. Há um assalto à visão periférica! A profusão de salas, preenchidas em diferentes distâncias, faz algo entre o que pode confundir, e pode convidar. Uma vez mais o escombro é ativão, e atua agora como curador: diz as paredes que melhor recebem cola e papel, inviabiliza outras por texturas vivas e rebeldes. A ausência de janelas vira uma coleção de molduras, paredes mais lambidas estão sempre por de trás: as de frente, que quase nada colam, guardam as obras de olhares óbvios ou preguiçosos.

Desconvidamos a todes: lamber é bom, é só colar!

Saiba mais sobre a ação https://www.mudda.com.br/jatombei