DESarquivos é formado por quatro artistas visuais - Madame Pagu, Nayara Rangel, Vania Viana e Ulla von Czékus - que a vida e a arte uniram. A produção de trabalhos está alicerçada pelas questões que envolvem o feminino, a passagem do tempo e as memórias.
Tem que existir muita ousadia na atmosfera que reúne mulheres que, ao invés de entregarem a própria história ao apagamento, escolhem reavivar memórias: as próprias, as de pessoas que lhes são caras, aquelas imaginadas e todas as outras que, através da liturgia da história oral, chegaram aos seus ouvidos.
Mais audácia ainda é pensar que essas mulheres mergulharam na rebeldia de ocupar espaços que antes não lhes pertenciam, para convidar todas as outras a pensar sobre as amarras e a mudez a todas impostas com o véu das regras sociais e das tradições regionais.
Famílias inteiras secularmente foram cingidas colocando em lados opostos homens e mulheres, e construiu-se uma lógica distópica onde obedecer e conhecer o próprio lugar num mundo secundário, nas sombras e nas sobras seria a melhor função feminina.
É um tipo de destemor que marca o encontro de quatro artistas, Ulla von Czékus, Nayara Rangel, Vânia Viana e Madame Pagu. Mulheres que acreditam que círculos femininos não só são possíveis, mas ganham uma potência infinita quando os temas, antes proibidos, passam a ser discutidos com voz própria e veemência.
O DESarquivos Coletivo Feminino de Arte nasce do reconhecimento de todas as incongruências, silêncios, obrigações e proibições. Reconhecimento esse que desemboca em uma autoridade inequívoca de que mudar posturas e tradições arcaicas é absolutamente tangível, mesmo que o caminho seja complexo.
Marca patente e constante nos trabalhos desenvolvidos pelo coletivo é a coragem de lidar com as próprias dores, que são, também as angústias de todas as mulheres, independentemente de sua época, buscando na trajetória de cada uma das artistas, amparo e voz infinita para tratar de temas densos e preciosos: uma tutela que exercem de modo personalíssimo e pleno de brio.
Isso porque em DESarquivos se fala sobre o que se acredita e se abarca histórias que, de um modo ou de outro, é comum e perene a todas as mulheres que, com coragem e afeto, se veem no espelho, enxergam suas iguais, e reconhecem em si, e em todas as outras, o próprio valor e o poder soberano de narrar sobre seus engenhos com respeito, acolhimento e sem mordaças.