ARREDORES | SURROUNDINGS

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Eu sou parte do todo,
não sou uma coisa e a natureza outra.



I am part of the whole,
I am not one thing and nature another.

Li, de Orhan Pamuk, seu desejo por ser o significado da árvore e não ela mesma. Depois disso passei a me questionar qual seria esse sentido, como seria significar-se árvore? Onde existe uma árvore existe vida, harmonia, transcendência. Elas são seres sociais[1] – e penso que as outras plantas também. Elas compartilham a água, o sol, a sombra e os seus nutrientes entre si e com as demais formas de vida ao seu redor, na qual me incluo. Ajudam-se mutuamente e aos outros. Generosidade e inteligência em perceber que cuidar dos outros é cuidar de si e, juntas, se sabem mais fortes. 

Uma única árvore não é uma floresta, ela fica desprotegida e exposta, mas muitas árvores juntas conseguem viver e durar bastante tempo. Se todos os seres só cuidassem de si, grande parte morreria[1] – o que parece uma tônica nos dias atuais diante das ocupações individualistas oriundas de todas as esferas sociopolíticas e econômicas. É preciso descobrir um ponto, um lugar, um momento onde todos serão uma coisa só, integrada, e assim descobriremos uma nova forma de habitar, juntos, o planeta. Descobriremos, acima de tudo, uma forma de avizinhar-se de sermos o arredor de nós, dos outros e de toda forma de vida que pulsa conosco. 

Foi, ao caminhar pelos arredores de meu corpo e do espaço que ocupo nesse mundo, que pude sentir a força vital da natureza e a importância da sua existência. Eu sou parte do todo, não sou uma coisa e a natureza outra. Descobri tantas belezas que eu mal consigo explicar a mim mesma. Todos esses sentimentos me fazem entender que é imprescindível cuidar, proteger, me envolver, me reintegrar a esse mundo chamado natural do qual fui afastada pela cultura. A série Arredores surgiu da experimentação desse envolvimento com a natureza, eu quis brincar de ser árvore, de ser planta, eu quis ser parte. Eu quis sentir, tocar, me enraizar. Também propus-me pensar as relações entre natureza e cultura ao abusar da pose, das roupas, da estranheza gerada pela ausência de uma identidade específica pela obliteração do rosto. 

Nos meus arredores existem várias árvores e plantas, algumas que devem estar aqui há bastante tempo e outras que foram sendo plantadas ao longo dos anos. Em frente à minha casa vive uma amendoeira bem grande. Enroscada em seu tronco e galhos coabita uma planta jiboia. Penso que a amendoeira não se incomoda de ser hospedeira para a jiboia, os pássaros, os micos e tantos outros seres vivos que usufruem dela, inclusive eu, que me aproveito da sua sombra e da sua beleza. Qual é o significado de uma amendoeira? Qual é o meu significado? 

[1] Wohlleben, P. A vida secreta das árvores. Rio de Janeiro: Sextante, 2017

I read, by Orhan Pamuk, his desire to be the meaning of the tree and not itself. After that, I started to wonder what that sense would be, what would it mean to be a tree? Where there is a tree there is life, harmony, transcendence. They are social beings[1] - and I think other plants too. They share the water, the sun, the shade and their nutrients among themselves and with the other forms of life around them, in which I include myself. They help each other and others. Generosity and intelligence in realizing that taking care of others is taking care of yourself and, together, you know you are stronger.

A single tree is not a forest, it is left unprotected and exposed, but many trees together can live and last a long time. If all beings only took care of themselves, a large part would die[1] - which seems a tonic nowadays in the face of individualist occupations from all socio-political and economic spheres. It is necessary to discover a point, a place, a moment where everyone will be one, integrated, and thus we will discover a new way of inhabiting the planet together. We will discover, above all, a way to get closer to be the surroundings of ourselves, of others and of all the life that pulsates with us.

It was while walking around my body and the space I occupy in this world that I was able to feel the vital force of nature and the importance of its existence. I am part of the whole, I am not one thing and nature another. I discovered so many beauties that I can barely explain myself. All these feelings make me understand that it is essential to take care, protect, get involved, reintegrate myself into this world called natural, from which I was removed by culture. The Surroundings series arose from the experience of this involvement with nature, I wanted to play being a tree, being a plant, I wanted to be part of it. I wanted to feel, touch, create roots. I also set out to think about the relationship between nature and culture by abusing the pose, the clothes, the strangeness generated by the absence of a specific identity by the obliteration of the face.

In my surroundings there are several trees and plants, some of that must have been here for a long time and others that have been planted over the years. In front of my house lives a very large almond tree. Wrapped around its trunk and branches cohabits a devil's ivy plant. I think that the almond tree does not bother to be a host for the devil's ivy plant, the birds, the monkeys and so many other living beings that enjoy it, including me, who take advantage of its shade and its beauty. What is the meaning of an almond tree? What is my meaning?

[1] Wohlleben, P. A vida secreta das árvores. Rio de Janeiro: Sextante, 2017

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